...ou o que nos faz decidir entre a monogamia e a bigamia?
Não importa como chegámos até aqui, mas a verdade é que demos por nós a falar sobre a condição de nos entregarmos apenas a um único companheiro, ignorando tentações paralelas. Por outras palavras, a conversa acabou ao estabelecer-se a dicotomia «monogamia vs. bigamia». Foi assim com o meu amigo Francisco. E com o seu devido consentimento, a conversa vai ser aqui transcrita, e foi mais ou menos assim: (...) Eu: A bigamia está fora de moda! E a poligamia ainda mais...
Ele: Mas achas que o Homem é um ser monogâmico?
Eu: O seu lado irracional faz dele um ser polígamo, mas a racionalidade e a emoção fê-lo perceber que mais vale assentar e optar por uma única parceira! Até porque a quantidade não é obrigatoriamente melhor do que a qualidade!
Ele: Hummm... Boa explicação, mas não sei se me convence totalmente! (Com um sorriso atrevido.) Porque se é verdade que temos um factor racional, toma em atenção que o instinto que temos é muito poligâmico!
Eu: Não me digas que estás a pensar voltar-te novamente para a quantidade num destes dias...
Ele: (A rir.) Não se trata disso! Até porque posso ter quantidade qualitativa.
Eu: Ou qualidade quantitativa? Fica aqui a dúvida...
Ele: A minha verdadeira pergunta é: será que o facto de sermos monogâmicos é puramente racional e puro, ou é por constrangimentos sociais e culturais? (...)
Antes de continuarem a ler, pedia-vos que reflectissem um pouquinho nisto! Que levante o braço quem nunca traiu, mesmo que apenas em pensamento. E o que é a traição?
Talvez até devamos começar por aqui! Há dias, em conversa com outra pessoa, referi que julgava bem mais grave a traição "cerebral" (aquela que acontece na nossa cabeça, quando fantasiamos com outra pessoa que não o nosso companheiro): fechar os olhos enquanto o beijamos, sonhando tratar-se de outra pessoa; conversar com ele, esperando que as suas respostas sejam aquelas que sabemos que iríamos obter com o outro; dar-lhe a mão e segurá-la com força pensando noutro alguém... E pior: viver em constante comparação entre os dois (o verdadeiro, e o dono da nossa fantasia)! Dito assim ganha novos contornos e uma maior proporção, não é?
A minha opinião com relação a esta matéria é taxativa: o Homem é realmente um ser polígamo por natureza, e isto reflecte-se no dia-a-dia, porque todos podemos ser vítimas de tentações. Mas há muitos anos atrás alguém se atreveu na presunção de chamar o Homem de "ser racional". Se por um lado não concordo com a acepção desta expressão, sou forçada a trazê-la para este contexto: porque o Homem tem de facto o dever de pensar nos seus actos, assumir as suas consequências, mas principalmente tem a obrigação de perceber o porquê das suas acções. E o poder de escolha é o seu maior acto de liberdade...
Aqui viajamos até ao momento em que deitamos para trás das costas os valores construídos com aquele a quem jurámos fidelidade, e acreditamos que um momento de prazer (momento esse que se pode estender por período indeterminado) será a resposta para as nossas ânsias. Tudo se resume a alguns minutos, ou àqueles milésimos de segundo em que podemos dizer que "não", mas somos traídos por um "sim" do nosso subconsciente! E o que procuramos quando nos entregamos a uma segunda pessoa, escondendo isso da primeira? Vamos em busca de bem-estar puramente carnal, ou de afecto? Se procuramos afecto, perguntem: porquê manter a união com a primeira pessoa, se nos falta o mais básico?
Egoísmo, meus caros, o egoísmo é o que jaz a traição! Trata-se de um jogo que em nada difere d'O Elo Mais Fraco: Vamos a ver com quem me entendo melhor, e logo dispenso quem estiver a mais. Por muito duro que isto possa parecer, se olharmos bem para o nosso imo, é isto que acontece quando nos deixamos cair em tentação!
Por isso, e com a questão do Francisco em mente, penso que estou em condições de concluir que a instigação do Homem para com a monogamia poderá ter a ver com os dois factores por ele apontados! Por um lado, temos aquelas pessoas que passam a vida a cair em tentação cerebralmente, e que traem descaradamente o seu companheiro de olhos fechados mesmo quando estão do seu lado, indivíduos que claramente não se atrevem a ir mais longe por se sentirem inibidos com as várias pressões sociais. E por outro lado, percebemos que existe toda uma categoria de pessoas que optam por racionalizar os seus actos, percebendo que o acto de escolha não é em si simplicista, e que um escasso momento de prazer pode arrastar consigo consequências graves que poderão destabilizar a felicidade do casal, que per si costuma representar bem mais do que um acto de traição, por mais estrondoso (leia-se aprazível) que ele seja!
Apesar de ter sido capaz de teorizar sobre esta questão, não julguem que não sobram demais contendas. Aquela com que mais tenho matutado depois desta minha conclusão é a seguinte:
Num mundo de infinitas opções, o que nos traz a certeza de que a nossa escolha é a mais correcta? Etiquetas: Crónicas
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