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Patrocínios da Voz
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O Valor da Voz:
A Encadear a Voz:
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Gostava de vos falar da Maria. Conheço-a desde a minha infância e brincámos inúmeras vezes juntas. Quando éramos crianças a Maria já se realçava como a mais espevita, e bem cedo despertou para o bel-prazer da conquista e do acto de se ser conquistado. De espírito errante e alma criativa, estudou arte nas mais bonitas cidades do mundo e deixou-se seduzir pelos corpos desnudos que transpunha nas suas telas.
Habituada aos encómios nas galerias de arte, e aos ritos de sedução gratuita dos homens fugazes e efémeros da sua vida, a Maria tornou-se numa daquelas mulheres com exacerbado pavor à própria ideia imaginada de terminar os seus dias sem a companhia de alguém que lhe dê atenção e renove os seus afagos e primores com frequência.
Tal como muitas outras mulheres, a barreira delimitadora do seu estado de absoluta compaixão para consigo mesma tornou-se mais manifesta na chegada ao que vulgarmente designamos pelos “intas”. Pobre Maria, na tentativa de recuperar o glamour e a sofisticação dos seus dias ufanos e a segurança de uma pele sem asperezas ou brilhos, mostra o seu indestronável sorriso às objectivas estranhas e a estranhos objectivos. É o jogo do vale-tudo para encontrar o Príncipe Encantado que deverá sair directamente das páginas dos contos fantasiosos que líamos juntas, para os trechos dos capítulos com que ela deseja encerrar a sua história.
Ridícula, ridicularizada e ridicularizante, a Maria tornou-se numa daquelas mulheres que não encontrou a perfeita união da sua sobriedade e inteligência profissional com o requinte selectivo inato à arte de se deixar conquistar, pelo que não é invulgar encontrá-la com vários espécimes que não obedecem a padrões. Eu chamar-lhes-ia apenas “engatatões”.
O futuro da Maria pode estar personificado num qualquer banco de autocarro, junto a um bar na discoteca da moda, deitado na toalha de praia do lado ou ser apenas o vizinho giro que lhe sorri no elevador. Esperançosa e esperançada, a Maria é uma mulher voluntariamente cega, e como dizia a minha mãe, “pior cego é o que não quer ver”! Mas ela acredita ver.
E no seu futuro ela reconhece duas sombras desiguais, lado a lado. A bem ou a mal…
Às vezes pergunto-me se esta apreensão da Maria virá apenas de uma incapacidade gramatical! Conseguirão as Marias do mundo conjugar no futuro do indicativo os verbos na primeira pessoa do singular, ou a sua compaixão incônscia a filtra para o uso da flexão verbal que se refere ao plural?
@ Voz das Beiras [Abril'06]Etiquetas: Crónicas
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